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domingo, 22 de novembro de 2009

Foi assim que tudo começou...

Renovar: minha colcha de retalhos


 “Nem sempre aprendemos as lições importantes da vida numa seqüência ordenada. Algumas lições são aleatórias, até mesmo inesperadas. Cabe-nos juntar as peças, como em uma colcha de retalhos.”

(Webb, 2000, p.100)

Hoje é o grande dia: terminei a minha primeira colcha de Patchwork feita à mão. Que orgulho que estou sentido de mim, por ter tido a oportunidade de praticar muitas coisas, começando pela paciência.

        Esta colcha é composta desde os blocos mais fáceis, como o Churn Dash, até os mais complexos, como a verdadeira estrela de oito pontos. Comecei a executar o primeiro bloco em sala de aula no dia 03/04/03. Foi engraçada a sensação que senti ao começar. Era um misto de medo, ansiedade, descrença e prazer por começar algo do princípio, do básico, pois eu tinha começado a aprender o Patchwork pelo meio. Mas logo vi que não daria certo, pois não sabia costurar à mão... Quando queria criar algo percebia que me faltava algo: “O princípio”.

        Ninguém pode ser alguém se não nascer, se não tiver uma profissão, se não estudar o básico. Aquela minha teimosia me fez ver o quanto a gente perde tempo querendo cortar caminhos, porque, lá na frente, percebemos que faltou aquele degrau!  Mania de subir escada de dois em dois degraus causa ansiedade, ou será que é a ansiedade que faz a gente subir os degraus de dois em dois? Não sei, o que eu sei é que desta vez resolvi começar do começo.

        Claro que eu não acordei num belo dia e disse: hoje vou começar o Patchwork do começo. Assim seria demais!  Usei então, a desculpa clássica daqueles que não dão a mão à palmatória, usei a desculpas do tipo: Vim acompanhar uma amiga, a Arlete... Então, sabe, para ela não começar sozinha... vou fazer este sacrifício (ainda bem!!!). Santa Arlete, se não fosse ela talvez eu estivesse por aí... Pelo meio...

        Após avisar a Professora Ivi, que a princípio não pareceu acreditar – embora tenha me incentivado logo de cara - comprei alguns materiais... Mas como toda aluna rebelde, inicialmente não deixei de reclamar: quantas coisas! Como são caras! Mas, vamos lá, sou teimosa e quando me proponho a algo levo a sério... Estou na fase de experimentar (quase) tudo.

         Na primeira aula me deparei logo de cara com o Bloco que menos simpatizava o “Churn Dash”, como eu achava aquele Bloco feio, mas ele é o mais fácil, o primeiro, o simples, e a prof. dizia que era só uma questão de escolher as cores que ele ficaria bonito, Será? Devo reconhecer que ela tinha razão. Hoje adoro este bloco e não canso de admirá-lo.

        A minha colcha tem quatro cores: branco, vermelho, verde e um floral com fundo bege e esta mistura de cores e tecidos fez com que cada bloco tivesse sua unicidade. Não sei porque escolhi estas cores, mas me encantei por elas e do começo ao fim do trabalho elas me acompanharam sem me cansar (aconteceu aquela simbiose).

Aprendi cada etapa e a importância de cada uma. É como a teoria da complexidade: as partes são tão importantes como o todo. Edgar Morin ficaria orgulhoso – eu creio - de ver que sua teoria se encaixa em uma colcha de Patchwork. Talvez seja por isso que tive o prazer de aprender cada passo e dar valor a cada um deles, pois esta colcha com seus passos compuseram a minha


vida durante um ano. Não dá para falar da colcha sem dizer da Monize.  Como eu aprendi com esta colcha!  Ela estava sempre ao meu lado, o tempo todo me ensinado, mostrando onde eu teria de melhorar, já que sou uma pessoa em evolução/construção, e que na vida, quando de repente algo novo surge, você tem que mudar, tomar um novo rumo... (ou novos rumos...).

Cada bloco feito era a conquista do novo, a busca nunca acabada da perfeição.  Comecei com pontos grandes e terminei com pontos minúsculos, talvez para não acabar, não sei, acho que era o prazer de estar ali algumas horas do dia me descobrindo, me costurando.

  Cada detalhe da nossa vida são como os blocos que, à primeira vista, não sabemos onde começam ou acabam, mas têm início e fim. É só juntar cada retângulo ou cada triângulo para formar um pequeno quadrado. Depois, junta-se cada quadradinho para surgir um grande retângulo e depois juntamos tudo para formar um grande Bloco. É como um quebra-cabeça: tudo se encaixa perfeitamente, se realizado com atenção e carinho, respeitando cada fase, aproveitando cada momento, cada acerto e erro.

 Quando não dava certo, eu recomeçava, mas antes procurava analisar como eu estava naquele momento. Talvez aquela não fosse a hora para o meu despertar. Então eu largava tudo e voltava adormecer. Uma colcha é como a vida: devemos dar tempo ao tempo, respeitar nossos limites e descobrir novas potencialidades ao tecê-la.
 Para entender como acontece todo o processo é preciso entender o curso básico, que é composto por nove blocos. Mas resolvi me pós-graduar e costurei vinte blocos, com eles me


formaria e a monografia seria a colcha. Desenhei todo o projeto, com blocos intercalados por faixas e uma barra, que representaria a renovação, a vida em movimento. Posso dizer que não saiu uma simples colcha: criei uma obra... de arte (pelo menos para mim).

Erros? Cometi muitos, mas eu ainda erro. Tropeços? Nem se fala, mas eu levantei e continuei melhorando a cada agulhada.
Quando costurei toda parte de cima da colcha (exatamente nove meses), me senti perdida, desorientada, pois uma etapa estava acabado e  era preciso ...recomeçar!  Como foi difícil! Logo de cara fui colocando empecilho, achei que não conseguiria, mas comecei e aquele bicho de sete cabeças foi se transformando em uma bela flor e o medo do desconhecido foi ficando para trás com cada ponto que eu dava ao quiltar. O que era grande tornou-se pequeno e delicado e eu não queria mais parar de quiltar! Os dedos estavam doloridos, mas continuei e... como é boa a dor da conquista, do crescimento. Também xinguei bastante ao me furar várias vezes e também a cada vez que uma agulha quebrava. Ao todo foram 14 agulhas, 20, 30, 40 agulhadas?  Nem sei mais. E aprendi que nem tudo é para sempre e que somos fortes e, ao mesmo tempo, frágeis como uma agulha.

Levei três meses quiltando e quando terminei... um novo recomeço me esperava: colocar o viés! Isto representava, segundo minha amiga terapeuta, que mais um momento da minha vida estava chegando ao fim. Costurei aos poucos o viés para poder senti-la em meus dedos por mais algum tempo, mas ao mesmo tempo tinha a necessidade de terminá-lo, pois também esta etapa precisaria se encerrar.
  
Eu a olho agora. Como ela ficou linda! Como estou mais renovada! Aprendi muito: aprendi a olhar tudo com outros olhos. Hoje reconheço melhor minhas fraquezas, aceito melhor meus defeitos, sei que tenho muito a caminhar e, mesmo pequena como uma agulha, eu sei que chegarei onde quiser é só acompanhar o sobe desce na trama do tecido... e da ... vida. Às vezes, será fácil passar para o outro lado do tecido; outras vezes, com muitas costuras juntas, terei que fazer força para vencer, mas vencerei.

Esta colcha é a minha vida: colorida e sóbria, fácil e difícil, com medo do novo, mas disposta a mudar e enfrentar novos desafios. Outras colchas virão, e com certeza saberei lidar com cada uma delas, pois estou disposta a evoluir e não sozinha, mas com a ajuda de pessoas amigas e incentivadoras.

 A vocês meu coração e a parte, já tecida, da minha vida.       
                                        Monize Amorim


6 comentários:

Silvana Búrigo disse...

Que linda história minha amigaa ! Vi alguns trechos desta colcha serem feitas. Não sabia que ela estava inacabada e que voce terminou-a em 2009. Parabéns, um grande beijo. Vou ser sua seguidora agora.Saudades dos nossos papos. Dá uma olhada no Blog da minha irmã: raparigaarteira.blogspot.com

GP disse...

Nossa MO!
Q história linda! Vc conseguiu discorrer todos os sentimentos r as sensações que esse trabalho lhe causou de forma extraordinária!

Parabéns!

Conte comigo para divulgar seu trabalho. Sempre!
Bjus da amiga que te ama.
Grazi

Léia Freisleben disse...

Oi Monise! Por acaso encontrei seu blog procurando modelos de colchas de patchwork e quilt. Acho lindo mas nunca aprendi a fazer e fico sempre adiando o momento de começar. Para minha surpresa encontrei sua linda colcha que me encantou e com o texto que me encantou mais ainda. Ele me levou a refletir sobre minha necessidade de iniciar logo a minha colcha pois creio que preciso mesmo me reinventar. Parabéns pela colcha e pelo relato tão sincero. Beijo

Marina disse...

Há um mês comecei as aulas de patchwork e o sentimento inicial que tive foi exatamente o seu! Isso poeque estou numa fase dificil de minha vida: a perda de minha mãe! Nós não nos dávamos muito bem! Ela sempre me rotulou negativamente quando criança e, agora, quando se foi, pareço estar sem identidade. Quem sou eu? O que eu construí de minha vida ou o que o que construíram dela? Sou aquele patinho feio que sempre me fizeram acreditar ou sou um cisne camuflado, com medo de desabrochar? Foi o seu texto que me fez refletir e com vontade de começar.
Minha mãe sempre dizia que tudo que eu começava deixava pelas metades... nunca acabava! E sua saga para terminar sua colcha, IR ATÉ O FIM, mexeu comigo... era como se fosse eu tentando provar que seria capaz de terminar o que comecei!
Estou com medo de começar uma colcha e não ir até o fim! Estou com medo de minha mãe ter tido razão, mas vou tentar começar uma colcha! Que Deus me dê a graça de vê-la acabada e ter a felicidade de no final me encontrar!

Marina disse...

Recebi seu recado no meu blog. Fiquei feliz, porque meu blog padece da falta de visitantes hi hi hi hi
A vontade de fazer a colcha foi adiada, porque sou muito exigente e ainda não me acho capaz de fazer uma colcha linda como a sua. Fui comprando tecidos aleatoriamente e eles não estão harmônicos entre si.
Pensei até em fazer uma colcha meio crazy para aproveitar os blocos que já fiz, por causa das medidas diferentes e das cores descombinadas. Vou ver, mas o baixo-astral passou, a auto-confiança foi readquirida... até porque eu já construí muito coisa na vida: uma casa, plantei várias árvores... só falta escrever um livro rsrsrsrsrs. Em todo caso obrigada pelas reconfortantes palavras!

Anônimo disse...

É´lindo... uma história....e vc tem a colcha para provar....eu a 30 anos atras iniciei uma colcha de exagonos., nem falavamos em patch....depois de todinha feita à mão.... achei que ficou muito pesada...a deixei de lado.... e acabei dando para uma pessoa....que talvez nem a tenha mais,,,,snhiff,,,,,ainda não tive coragem para outra,,,Parabens.soniaropelli52@hotmail.com